Tudo começou com um livro de Chistopher Isherwood (1904-1986), “The Berlin stories”. Autobiográfica, a obra conta as experiências _ principalmente sexuais _ do escritor britânico na Berlim dos anos 30, às vésperas da ascensão de Hitler ao poder. Dividido em duas partes _ “Goodbye to Berlin” e “ Mr Norris changes trains” _, o livro reunia crônicas com as lembranças de Isherwood deste período (há uma edição brasileira da Brasiliense, com o titulo “Adeus a Berlim”). Numa das crônicas da primeira parte, é apresentado um personagem fascinante, Sally Bowles. Foi daí, desta crônica, que o dramaturgo também britânico John van Druten escreveu, em 1951, a peça “I am a camera”. No teatro, o próprio Isherwood era personagem e a trama revelava seu relacionamento platônico com Sally, a cantora de um cabaré alemão. Daí nasceu uma fracassada adaptação para o cinema, em 1955, e uma bem sucedida versão para o teatro musical, com o título “Cabaret”, em 1966.
O musical mexeu na história original criando um personagem _ o escritor americano Clifford Bradshaw _ para representar Isherwood e inventando uma relação mais concreta entre ele e Sally. Mas “Cabaret”, o musical, tinha, principalmente, uma antológica seleção de canções de Fred Ebb e John Kander (a mesma dupla de “Chicago” e “O beijo da Mulher-Aranha). O musical ficou três anos em cartaz na Broadway, foi montado mais duas vezes em Nova York e virou o filme, que todo mundo conhece, sob a direção de Bob Fosse e revelando Liza Minnelli para o mundo, em 1972.
Apesar do sucesso da peça, a produção de cinema mexeu na trama (foi assim que nasceu o triângulo amoroso) e na trilha sonora (os sucessos “Mein Herr” e “Maybe this time” não existiam no score original).
O “Cabaret” de Claudia Raia respeita a versão do libreto do musical de 1966, mas eliminou algumas canções originais e incluiu as duas músicas que só apareciam no filme. Nesta altura do campeonato, é difícil saber o que vem do livro, o que vem da peça, o que vem do filme. O que “Cabaret” deixa claro, no livro, no filme ou na peça, é que Sally Bowles é um personagem inesquecível.
No ano passado, “Christopher and his kind”, um filme britânico feito especialmente para a televisão, e que já passou por aqui na TV a cabo, complica mais um pouco esse aparentemente infindável número de adaptações do livro. O telefilme reproduz a vida de Christopher Isherwood e dá uma pista de quem se transformou em quem na ficção. É ali que, pela primeira vez, Sally Bowles aparece com seu nome verdadeiro: Jean Ross! O escritor a reencontrou em Nova York, nos anos 50, onde ela fazia panfletagem para o Partido Comunista. Jean Ross nunca quis ver “Cabaret”.
Fonte: Blog do Xexéo
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