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"O ser humano é capaz de tudo, até de querer coisas nocivas e negativas para si mesmo."

- Claudia Raia

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08 abril 2012

Adaptação, por Artur Xexéo


Para quem só conhece o filme musical de 1972, o “Cabaret” atualmente em cartaz no Rio no Teatro Casa Grande é uma surpresa. É estranho não ver no palco, por exemplo, o triângulo amoroso que move o filme. A caprichada montagem estrelada por Claudia Raia é uma boa oportunidade de se perceber o quanto uma adaptação mexe com uma obra original. “Cabaret” é uma história tão rica que vem sendo contada desde 1945 e, de lá para cá, sofreu alterações tão radicais quanto as de uma brincadeira de telefone sem fio. 


Tudo começou com um livro de Chistopher Isherwood (1904-1986), “The Berlin stories”. Autobiográfica, a obra conta as experiências _ principalmente sexuais _ do escritor britânico na Berlim dos anos 30, às vésperas da ascensão de Hitler ao poder. Dividido em duas partes _ “Goodbye to Berlin” e “ Mr Norris changes trains” _, o livro reunia crônicas com as lembranças de Isherwood deste período (há uma edição brasileira da Brasiliense, com o titulo “Adeus a Berlim”). Numa das crônicas da primeira parte, é apresentado um personagem fascinante, Sally Bowles. Foi daí, desta crônica, que o dramaturgo também britânico John van Druten escreveu, em 1951, a peça “I am a camera”. No teatro, o próprio Isherwood era personagem e a trama revelava seu relacionamento platônico com Sally, a cantora de um cabaré alemão. Daí nasceu uma fracassada adaptação para o cinema, em 1955, e uma bem sucedida versão para o teatro musical, com o título “Cabaret”, em 1966. 


O musical mexeu na história original criando um personagem _ o escritor americano Clifford Bradshaw _ para representar Isherwood e inventando uma relação mais concreta entre ele e Sally. Mas “Cabaret”, o musical, tinha, principalmente, uma antológica seleção de canções de Fred Ebb e John Kander (a mesma dupla de “Chicago” e “O beijo da Mulher-Aranha). O musical ficou três anos em cartaz na Broadway, foi montado mais duas vezes em Nova York e virou o filme, que todo mundo conhece, sob a direção de Bob Fosse e revelando Liza Minnelli para o mundo, em 1972. 


Apesar do sucesso da peça, a produção de cinema mexeu na trama (foi assim que nasceu o triângulo amoroso) e na trilha sonora (os sucessos “Mein Herr” e “Maybe this time” não existiam no score original). 


O “Cabaret” de Claudia Raia respeita a versão do libreto do musical de 1966, mas eliminou algumas canções originais e incluiu as duas músicas que só apareciam no filme. Nesta altura do campeonato, é difícil saber o que vem do livro, o que vem da peça, o que vem do filme. O que “Cabaret” deixa claro, no livro, no filme ou na peça, é que Sally Bowles é um personagem inesquecível. 


No ano passado, “Christopher and his kind”, um filme britânico feito especialmente para a televisão, e que já passou por aqui na TV a cabo, complica mais um pouco esse aparentemente infindável número de adaptações do livro. O telefilme reproduz a vida de Christopher Isherwood e dá uma pista de quem se transformou em quem na ficção. É ali que, pela primeira vez, Sally Bowles aparece com seu nome verdadeiro: Jean Ross! O escritor a reencontrou em Nova York, nos anos 50, onde ela fazia panfletagem para o Partido Comunista. Jean Ross nunca quis ver “Cabaret”.


Fonte: Blog do Xexéo

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