Slid

News

Frases

"O ser humano é capaz de tudo, até de querer coisas nocivas e negativas para si mesmo."

- Claudia Raia

Comente

26 março 2012

Claudia Raia estreia musical ‘Cabaret’ no Rio, na sexta-feira


SÃO PAULO - Quando o musical "Cabaret" estrear, na sexta-feira, no Oi Casa Grande, estrelado por uma Claudia Raia no auge da carreira e com uma forma física absurda para seus 45 anos, o público estará diante de uma superprodução que, a despeito dos puristas, faz jus à carreira de sucesso de um dos musicais da Broadway e de Londres — depois transformado em filme hollywoodiano pelas mãos de Bob Fosse — mais festejados de todos os tempos.

É um espetáculo de e para Claudia, que vinha perseguindo por 20 anos a possibilidade de interpretar Sally Bowles, a cantora bêbada, disfuncional, solitária e bipolar — "quadripolar", diz Claudia — que faz no "Cabaret" Kit Kat, em Berlim, no período entreguerras, a sua história.
Claudia está no epicentro da produção, "dando pitaco em tudo", como admite. Praticamente uma desbravadora dos musicais no Brasil — este é o 10 de uma lista que inclui "A chorus line", "Não fuja da Raia" e "A pequena loja dos horrores" —, a atriz conseguiu finalmente os direitos de "Cabaret" e não economizou na ambição: convidou José Possi Neto para a direção-geral, Miguel Falabella para a adaptação de texto e músicas e se esmerou na produção de um show de cerca de 80 profissionais (mais de 20 atores e bailarinos), com a certeza de que o ator Jarbas Homem de Mello, com quem havia trabalhado em "Pernas para o ar", seria o seu Mestre de Cerimônias (hoje também namorado).

— A pegada é mais a do livro, de onde nasceu a história, que tem um ar mais sombrio, uma Sally de dedos amarelos de nicotina, viciada em gim, solitaríssima. Na mistura dos libretos do teatro e do cinema, optamos por um espetáculo com mais peso, e eu adoro esse peso — diz ela, sentada numa sala de baristas no Suplicy Café da Alameda Lorena, em São Paulo, tomando um descafeinado. — Até temos o glamour dos espetáculos de cabaré da Berlim dos anos 1920, mas ele é apoiado numa história densa e bem-estruturada.

De fato. O "Cabaret" de Claudia é bem menos alegre que o filme de Bob Fosse estrelado por Liza Minnelli, ainda que mais glamoroso. A história de como a ascensão nazista vai tomando conta da rotina dos personagens, limitando-os, tolhindo-os, reprimindo-os, ganhou uma versão extremamente física nas mãos de Possi Neto, um diretor conhecido por isso. O corpo parcialmente nu está lá, revelando mamilos, seios, nádegas, coxas. Cenas de conteúdo sexual nada implícitos também, mas todas trabalhadas esteticamente com a ajuda de mais de 150 figurinos de tom fetichista de Fabio Namatame. As "velhinhas da van" se cutucam e se emocionam. O público pigarreia.

— A Claudia proporcionou um encontro de talentos muito feliz — conta Possi.— Ela me apresentou o Jarbas, um intérprete maravilhoso do MC, e juntos pensamos em convidar o Miguel para fazer a adaptação. A gente se perguntava se algumas músicas não deveriam ser mantidas em inglês, mas no fim a tradução das letras foi muito feliz, assim como a coreografia de Alonso Barros, um especialista em Bob Fosse.
O diagnóstico do diretor acerta em especial na participação de Homem de Mello, um ator tão excepcional no canto, na atuação e na dança que o papel lhe valeu uma indicação ao Prêmio Shell de SP como melhor ator, uma raridade para performances em musicais (a outra indicação foi para a iluminação de Paulo César Medeiros).

— Engraçado que comecei trabalhando a minha voz e depois cheguei ao corpo e à atuação em cena, que queria que fosse meio a do boneco assassino Chucky, mas sensual naquela brincadeira entre o masculino e o feminino — conta Mello.

O resultado dessa interação de amizade, trabalho e amor entre Claudia e Jarbas acabou resvalando para uma história em que os momentos entre Sally e o MC são tão intensos, divertidos e variados quanto os momentos entre Sally e seu amor inventado, o escritor Cliff Bradshaw. Cliff é interpretado pelo jovem ator Guilherme Magnon, depois que Reynaldo Gianecchini deixou a peça para tratar um linfoma.

— Buscamos centrar a encenação na história de amor de Sally e Cliff, que é muito rica, sem esquecer a outra, entre a Fraulein Schneider, a dona da pensão, e o Herr Schultz, o senhor judeu, um amor que ficou impossível com a ascensão do nazismo — diz ela. — Acaba sendo uma história de amores impossíveis.

A direção musical e vocal de Marconi Araújo é o "personagem que não entra em cena", mas merece tanto elogio quanto o de qualquer ator. Não só porque cuida da harmonia entre 20 cantores e a orquestra, mas porque buscou resolver o ponto de maior esforço de Claudia Raia: a voz. Porque todos decidiram que as músicas não seriam adaptadas para as vozes dos atores, mas mantidas nos tons originais. E a voz de Claudia, mais para os dramáticos dos mezzo sopranos, tem que trabalhar para atingir os agudos que uma Liza Minnelli daria embaixo d’água.

— Foi um dos trabalhos vocais que mais me exigiram — diz Claudia. — Tive que trabalhar algumas letras com o Miguel, e pedia para ele mudar a palavra de modo que uma vogal "a" pudesse passar para "e" num agudo porque é mais fácil.

"Cabaret", baseado num livro de Christopher Isherwood, foi produzido em 1966 na Broadway com música de John Kander e letras de Fred Ebb. Virou um sucesso tão retumbante que, em 1972, Bob Fosse decidiu fazer um filme com uma ainda novata Liza Minnelli no papel principal, gerando outro grande sucesso. No total, "Cabaret" conquistou 13 Tonys e oito Oscars. No Brasil, teve sua primeira montagem em 1989, dirigida por Jorge Takla e estrelada por Beth Goulart. Claudia queria o papel, mas estava comprometida com a novela "Rainha da sucata".

Nos anos 1990, ela tentou novamente comprar os direitos, sem sucesso, e, em 2000, outra novela a impediu de protagonizar nova montagem. Ela e o produtor geral Sandro Chaim passaram a acompanhar de perto a agenda de Claudia e a disponibilidade dos direitos da peça. Até que, em 2010, com os direitos finalmente adquiridos, começou a dar forma ao seu sonho antigo. Foram três meses de ensaios de oito horas por dia, de segunda a sábado.

"Cabaret" fica até junho no Oi Casa Grande, quando deve entrar em temporada popular no Carlos Gomes. Depois, o musical segue em turnê para Natal, Recife, Porto Alegre e Curitiba, até voltar a São Paulo, para nova temporada estimulada pelos 60 mil espectadores que lotaram o teatro Procópio Ferreira. E quais os planos para depois? Claudia olha com meiguice para Jarbas Homem de Mello.

— A gente morre de saudade só de pensar que vai acabar — diz ela, antecipando-se ao extremo.
Mello acrescenta:

— Estamos juntos no palco, na vida e inclusive nos filhos (dela). Não, não bota isso aí não. Mas é triste pensar no fim.

0 comentários:

Postar um comentário

banner2

linkme

Link-Me


Topo /*efeito quando passa o mouse */
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...